terça-feira, 4 de novembro de 2014

Algumas bonitas fotos!



Abaixo algumas bonitas fotos de Ribeirão!

Fotos que ajudam a preservar nossa memória!











segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Os ribeirenses e a grande guerra!


Ribeirão Vermelho também não passou ilesa pela Segunda Grande Guerra e muito de seus filhos foram convocados a lutar pelo nosso país. Não consigo contar a história de todos infelizmente, porém, abaixo temos duas histórias acontecidas durante a guerra em solo italiano vividas e contadas por David Ferreira Dâmaso, um dos Ribeirenses que participou desta história junto aos demais pracinhas Brasileiros.
 


 Foto tirada após a conquista de Montese – Soldados do 11ºRI


Cabo David Ferreira Dâmaso
  
Ex-combatente da 2ª Guerra Mundial
11º RI – Regimento de Infantaria – Regimento Tiradentes
São João Del-Rei – MG

Natural de Ribeirão Vermelho – MG
UNIDADE:
II/11º Regimento de Infantaria

POSTO OU GRADUAÇÃO:

Cabo. Ao regressar ao Brasil foi licenciado e reintegrou-se a suas atividades civis
CONDECORAÇÕES:
Medalha de Campanha

Entrevistado por um membro da Diretoria da Anvfeb/JF.

UM ACONTECIMENTO QUE FICOU GRAVADO EM SUA MEMÓRIA.
“Tudo e todos os acontecimentos ocorridos durante o desenrolar da Campanha da FEB na Itália, foi importante para mim. Assim sendo, vou começar, contando como e porque fui incluído na Força que deveria representar o Brasil na 2ª Guerra Mundial.

Em 1941, apresentei-me como voluntário no 11º Regimento de Infantaria em São João Del-Rei. Tinha 16 anos. Completei 17, no dia 7 de maio de 1941, já como soldado.
Para usar de franqueza, devo dizer que a minha intenção era servir um ano para cumprir minha obrigação militar. Mas todos sabem que a partir de 1941, até o final da guerra não houve licenciamentos no Exército, razão porque, quando o meu Regimento, o 11º RI, foi escolhido para integrar a FEB, tornei-me um expedicionário.
Embora pertencesse ao 11º Regimento de Infantaria, segui para a Europa com o 6º Regimento de Infantaria, no dia 2 de julho de 1944 e, na Itália, quando a tropa que constituiu o primeiro escalão entrou em ação de combate, o pessoal pertencente ao 11º RI, que havia seguido com o 6º RI, passou a constituir tropa de reserva para o recompletamento dos quadros.
Com a chegada dos 2º e 3º Escalões da FEB, que foram estacionados em San Rossore, próximo a cidade de Pisa, fui procurar o meu antigo comandante de sub-unidade (C.P.P./2) e pedir para ser requisitado. O Comandante da E.P.P./2 não atendeu ao meu pedido como também me incluiu no meu antigo Pelotão de Morteiros, porém não encontrei meus antigos companheiros, mas, mesmo assim, fui recebido com cordialidade por todos e nos tornamos “uma família unida”.
Depois de um período de instrução no acampamento de San Rossore, seguimos para Silas, onde estava a Linha de Frente. Passamos por um lugarejo chamado TORRE DE GRANAGLIONE, onde fomos forçados a estacionar devido ao mau tempo (chuva muito forte), para passar a noite. O inverno estava começando, porém ainda não estava nevando. As noites, porém, eram muito frias e o solo e as plantas amanheciam com uma camada de neve.
Para passarmos a noite naquela região, o Comandante procurou abrigar todo o pessoal nas casas ali existentes, o que não foi muito difícil porque as famílias italianas já estavam acostumadas com aqueles contratempos. O meu Pelotão foi alojado na Capela ali existente, um lugar muito apertado para tanta gente; mesmo assim procuramos “nos ajeitar” da melhor maneira possível.
Depois de deixar “nossas coisas” no local que me coube, sai para um reconhecimento dos arredores. Parado na única pracinha do local, conversava com um colega, quando ouvi (eu já entendia mais ou menos o italiano) um habitante da localidade comentar que na casa dele havia lugar para umas 5 pessoas, mas que ninguém o procurou. Dirigi-me, então, àquele que havia comentado e pedi-lhe que não falasse sobre o assunto com mais ninguém, pois eu ia pedir ao meu comandante autorização para aceitar o seu acolhimento.
Procurei o meu Comandante e, depois de contar-lhe o fato, pedi-lhe permissão para aceitar o oferecimento do italiano, o que me foi concedido. Procurei, então o cabo da outra peça de morteiro, convidamos os dois sargentos do pelotão e também o sargento auxiliar, e nos trnsportamos para a casa do hospitaleiro italiano, que era um idoso.
Estávamos com as nossas roupas molhadas, inclusive as roupas que se encontravam nos sacos. A temperatura havia caído muito, razão porque, ao entrarmos na casa do italiano, procuramos nos chegar a lareira a fim de nos aquecermos.
Habitavam aquela casa um casal de velhos que eram chamados de “nonos”, por uma mulher cujo marido “tedeschi portare-via”, um “bambino” de 9 anos mais ou menos e uma “ragazza” de 11 ou 12 anos, doente e acamada.
Pelo aspecto da casa e pela educação de seus habitantes via-se que eram pessoas de classe média e que viviam com relativo conforto.
Para nos confraternizar com aquela delicada e hospitaleira família, procuramos estabelecer um “papo” o que não foi difícil, apesar de ainda não estarmos bem familiarizados com o idioma italiano, porque havia da parte dos italianos um desejo de conhecer algo sobre o Brasil, sendo estabelecido uma espécie de serão com o aparecimento de outras pessoas. Primeiro foi uma “ragazza” que morava nas proximidades; depois foram alguns rapazes e mais uma ou duas “ragazzas”. Falamos sobre vários assuntos e, de quando em vez, alguém nos perguntava como era São Paulo, etc…
O primeiro que sentiu vontade de se recolher, foi o Sargento Thadeu – era o Sargento Auxiliar do Pelotão.
- Vou deitar-me – disse. Estou cansado…
- Espera um momento – disse a velha senhora que já havia se solidarizado conosco. Vou esquentar a cama.
- Não é preciso – disse o Sargento Thadeu um tanto encabulado. Não precisa se incomodar. Muito obrigado.
Com as nossas caras de “lobo mau”, maliciamos o caso e isto encabulou ainda mais o Sargento que saiu da sala, dirigindo-se para o quarto que lhe havia sido destinado.
Não demorou muito, esfregando as mãos e encolhido, retornou o Sargento Thadeu:
- Êta frio danado! A cama está tão fria que até parece que jogaram água gelada no colchão.
- Eu sabia que o senhor não conseguiria dormir – disse a senhora que a seguir saiu da sala.
Com aquelas mesmas caras de “lobo mau”, perguntamos a nós mesmos: será que ela vai deitar na cama para aquecê-la?
O que aconteceu foi o seguinte. Saindo da sala a boa “nona” foi buscar uma vasilha de barro com alça, cheia de brasas. Colocou uma armação de bambu ou taquara sobre a cama, pendurou a vasilha de barro com alça que ficamos sabendo chamar-se “escaldine” e a seguir cobriu a armação com os cobertores.
Dormimos naquela noite como uns justos e, no dia seguinte, quando despertamos, encontramos as nossas roupas enxutas, inclusive as roupas dos sacos de campanha, as nossas galochas limpas e os nossos capotes escovados. Aquela boa “nona” e aquela senhora, ainda bonita que tinha uma filha doente, cujo marido “tedeschi potare via”, passaram parte da noite cuidando da roupa de cinco soldados desconhecidos, fazendo aquilo que somente uma mãe faria e o que poucas esposas seriam capazes de fazer. Ficamos comovidos. Não havia palavras capazes de expressar nossos agradecimentos.
Quando fomos pegar a nossa primeira refeição do dia, lembramos da menina doente e procuramos obter uma boa ração de mingau de aveia para ela e outras coisas para atender também as demais pessoas. Procuramos em nossos sacos aquilo que não nos fazia falta e lá deixamos chocolate, biscoitos. Cigarros e até um par de calçado e alguns agasalhos que não nos faziam falta, mas que, absolutamente, não quitava a nossa gratidão.
Não me foi possível voltar a Granaglioni e não tive mais notícias daquela gente boa que, numa noite de chuva, frio e lama, nos acolheu em sua casa e nos deu demonstração inesquecível de comovente solidariedade humana e de amor ao próximo. Fiz o possível para voltar àquela localidade e rever os “NONOS DE GRANAGLIONI”, não somente para abraçar-lhes como também para saber seus nomes. Não foi possível. Um soldado, principalmente durante a campanha, não manda em si.
Na guerra há dessas coisas…”
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“Um outro acontecimento, que merece ser contado, aconteceu em BOMBIANA, bem próximo de Castelo, durante a fase defensiva devido ao inverno rigoroso.

A nossa Seção de Morteiros ocupou posições em Bombiana e a guarnição ocupou uma casa de camponês italiano que ali existia. A casa tinha dois pavimentos. O térreo era habitado por um casal de italianos e tinha uma sala, um quarto e cozinha e o pavimento de cima era habitado por um casal de franceses com uma filha de 10 ou 11 anos. Tinha 3 quartos e uma área de circulação. A família que ocupava a parte térrea era de camponeses e devia ser os donos da propriedade. Eram designados por “babo” e “mama”. Não ficamos sabendo se tinham filhos. Quanto à família do andar de cima, parecia ser gente de fino trato. Não ficamos sabendo o porquê de estarem ali.
Com a nossa chegada à família passou a utilizar um único quarto, os outros dois foram ocupados por nós.
Nessa posição chegamos a passar fome. A comida chegava pela manhã, antes do sol raiar, e à tarde quando escurecia. A estrada que dava acesso à nossa posição era vista pelos observatórios inimigos situados em cristas dominantes, razão pela qual era intransitável durante o dia. Nessa posição só saíamos do abrigo quando tínhamos missão de tiro, pois deveríamos ter o cuidado para não denunciarmos a posição. Felizmente o francês não deixava faltar lenha para a lareira.
Um dia a “bóia” não chegou à noite e também não chegou na manhã do dia seguinte. Eram mais de 12 horas e a nossa fome era de matar… Deitados em nossas camas, procurávamos afugentar aquela fome que nos atormentava. Não tínhamos, realmente, nada para comer porque “catoletas” que nos haviam dado como rações de reserva eram demasiadamente enjoativas e, por isso, demos para os habitantes da casa. O jeito era esperar que anoitecesse e então…
Foi nesse momento que a francesinha entrou em nosso quarto com dois pratos de macarrão, um par mim e outro para meu companheiro de quarto. Creio que foi o mais gostoso prato de macarrão que comi em toda a minha vida.
Com a família italiana que morava no andar térreo, tivemos menor contato porque como disse, durante o dia raramente saímos de nossos abrigos, não só para não denunciar a posição como também devido ao frio que era muito intenso.
Certa vez desci ao pavimento térreo, o italiano chamou-me em particular e me ofereceu “uma binquera de vino” mas pediu-me que guardasse segredo porque ele tinha pouco vinho e não poderia oferecer a todos.
Saboreamos o gostoso vinho, e quando saí para substituir o meu companheiro no observatório e na escuta do telefone, o italiano, novamente, pediu-me que não falasse com ninguém sobre o convite, pois ele tinha poucas garrafas para passar o inverno.
O vinho, naquela região, é uma bebida muito apreciada e muito útil porque ativa a circulação do sangue, promovendo uma sensação de aquecimento.
Logo que cheguei para substituir o meu companheiro, comentei o fato e ele disse-me que já havia sido convidado e que ouviu do italiano a mesma “parola”.
Muitos outros acontecimentos poderia contar. Escolhi justamente estes porque me agrada falar sobre a cordialidade e o espírito de solidariedade daqueles camponeses italianos.
Nem a guerra, com toda a sua brutalidade, conseguiu destruir ou modificar o espírito cordial e até mesmo exagerado daquela gente boa e simples.

*FONTE: Do livro “Histórias de Pracinhas” Contadas por eles mesmos Autor: Vet Maj Álvaro Duboc Filho
   *Site: http://www.anvfeb.com.br

sábado, 1 de novembro de 2014

Curiosidades sobre as Oficinas e demais instalações do Pátio Ferroviário




 

 Dados sobre as oficinas
               

 

 
 



“O conjunto arquitetônico que constituía as Oficinas da Estrada de Ferro Oeste de Minas em Ribeirão vermelho,cujas atividades operacionais iniciaram-se em março de 1896, também data de 1895, sendo supervisor da obra Antônio Rodrigues Oliveira Castro, que dirigiu com proficiência os trabalhos, tendo às suas ordens grande número de homens, a maioria espanhóis. As oficinas montadas pela Brasilian Contracts Corporation possuíam as formas utilizadas nas construções industriais da época, variando apenas seus interiores. Eram construções com pés direitos altos, sendo empregadas em suas coberturas, além de estruturas metálicas importadas de Glasgow, na Escócia, as telhas francesas importadas de Marseille na França. As oficinas de Ribeirão Vermelho eram divididas em vários setores, destacando-se: caldeiraria, fundição de ferro-bronze, ferraria, marcenaria, carpintaria, tinturaria, etc., chegando a empregar, em seu apogeu, algo em torno de 800 trabalhadores ferroviários. Em suas instalações eram feitas reformas, reparos e montagens de carros e locomotivas, sendo muitas peças de reposição fabricadas pelos próprios técnicos e operários, assim como as montagens de carcaças de madeiras em peroba e cedro para o esqueleto, estrado e revestimentos laterais dos carros que eram preparados sobre as estruturas de ferro vindas do exterior. No setor de fundição, eram forjadas rodas para locomotivas e outros veículos, recebendo equipamentos de acordo com as necessidades e a diversificação do transporte. Na década de 1910, as oficinas de Ribeirão Vermelho haviam sido melhoradas com a instalação de um grande torno de rodas, dois tornos menores, uma plaina horizontal, uma máquina de furar radial, de grande potência e um aparelho de soldagem oxy-acetileno. A oficina, que era movida a vapor nessa ocasião, foi substituída por um motor elétrico, em razão da construção da linha de transmissão de força de Lavras a Ribeirão Vermelho, numa extensão de 10 km. Para se ajuizar das possibilidades dos serviços nessa oficina, figura como exemplo a construção da Locomotiva 55 Tipo Consolidation para a bitola 0,76 m, construída nessa oficina por operários nacionais e que prestavam tão bons serviços quanto as importadas, tendo custado 82:457$000(oitenta e dois contos, quatrocentos e cinqüenta e sete mil réis), cerca da metade do que custaria uma do mesmo tipo, adquirida no estrangeiro, conforme Mucio Jansen Vaz, em Estrada de Ferro Oeste de Minas (ob.cit.). Em 1935, após o arrendamento da Oeste de Minas pelo governo do Estado de Minas, a rede Mineira de Viação pensou em centralizar as fundições da ferrovia e, com isso, o setor de fundição de Ribeirão Vermelho foi desativado, transferindo todo seu equipamento para as oficinas de Divinópolis. Na década de 50, com a transformação do sistema de transporte, algumas locomotivas a vapor passaram a sofrer adaptações para funcionar a óleo, sendo a primeira experiência em Ribeirão Vermelho realizada em 1951, em uma locomotiva Consolidation nº 430. Já em 1958, a tração a vapor começou a ceder lugar às elétricas e diesel, sendo, em 1975, extinta totalmente do país, com exceção das empregadas no turismo. Porém, com essas transformações, as oficinas de Ribeirão Vermelho passaram a ser designadas como depósitos e no ano de 1968, foi confirmada a sua desativação, passando seu acervo para o distrito de Engenheiro Bhering, no município de Lavras. As oficinas representam para os ribeirenses a instrução, a disciplina, o ofício, a dignidade e a honra do trabalhador ferroviário. A princípio, fruto da mão de obra proletária farta de uma nação em transformação, que empregava os operários ainda crianças, entre 9 e 12 anos de idade, lotados em uma escola prática de aprendizes para a formação de mão de obra especializada, em que se misturavam aulas de desenho, geometria e aritmética, entre outras matérias, correspondentes aos vários setores e departamentos operacionais.

Rotunda 

“As obras da construção da Rotunda de Ribeirão Vermelho, anexa às oficinas, foram concluídas em 1895 pela Cia. Estrada de Ferro Oeste de Minas, também sob a supervisão do português Antônio Rodrigues de Oliveira Castro, entrando em atividades somente em março de 1896. Destinada a depósito, manutenções, montagens e reparações de bitolas métricas, a Rotunda, assim como as oficinas, teve suas estruturas montadas pela Brasilian Contracts Corporation, além dos equipamentos, máquinas e projetos procedentes da Inglaterra. Em relatório apresentado pelo diretor da Estrada de Ferro Oeste de Minas, engenheiro José de Almeida Campos Júnior ao Sr. Ministro da Viação e Obras Públicas, a Rotunda de Ribeirão Vermelho é citada como tendo sofrido uma limpeza e aparece no quadro “Relações de Usinas e oficinas na bitola de 1,00 m” com os seguintes dados: Quilômetro - 293,985; Comprimento – diâmetro 75 m; largura- 6,45 m; sistema de Construção- alvenaria de pedra, tijolos, telhas francesas; Valor- 90.000$000(noventa contos de réis). A partir da década de 60 , quando entraram em operação as locomotivas a diesel, em substituição às máquinas a vapor, num processo gradativo, a Rotunda passou a ser utilizada exclusivamente para depósito de locomotivas a vapor, abrigando em seu interior várias dessas locomotivas até o ano 1981, quando, então, a RFFSA, com a criação do Centro de Preservação da História Ferroviária de Minas Gerais em São João del Rei, resolveu recuperá-las para constituir o seu acervo. Segundo Sérgio Santos Morais, em reconstrução da Rotunda de São João Del Rei (ob.cit.), “a rotunda é uma oficina radial, possuindo forma circular, tendo ao centro um dispositivo chamado girador de onde irradiam linhas como se fossem raios em círculos. Os espaços internos são divididos em boxes individuais, com linhas para onde são conduzidas as locomotivas, através do girador. As paredes externas não são na realidade em forma circular, mas de forma poligonal, formando um prisma de 30 faces ou lados, com grandes janelas distribuídas duas a duas em cada plano e nove portões que dão acesso ao edifício, possuindo pé direito em torno de 6m, diâmetro de 75 m e 30 colunas de ferro fundido ricamente trabalhadas, possuindo aberturas para passagem de tubulação de águas pluviais, apoiadas em cantaria de pedras. Um único portão é encimado por um frontão característico que cria um eixo de simetria na fachada. O telhado em duas águas, acompanha o formato poligonal do edifício, formando planos em forma de trapézio.” A Rotunda é o orgulho dos ribeirenses. De inquestionável valor histórico, a Rotunda lembra construções romanas, ostentando-se, em especial a magia do seu interior todo constituído de elementos inteiramente oriundos da cultura europeia. Ali dentro, sob o batente duro das ferramentas, dos insistentes apitos das locomotivas, da caldeira e do carvão, tramavam-se as melhores chances de um futuro melhor para Ribeirão Vermelho. Suas conquistas, malogradas ou não, tais como a organização político-administrativo, a criação de clubes litero-recreativos, a fundação das escolas, corporações musicais, clubes de futebol e igrejas, entre outros, foram iniciativas florescentes que nasceram no seio da família ferroviária ribeirense que, unida, construiu a cidade. Sua forma arquitetônica curiosa e pouco comum estimula e provoca a atenção de muitos visitantes que questionam a história local. Setores completando o conjunto ferroviário de Ribeirão Vermelho, existem os prédios destinados especificamente às instalações do restaurante, conserva externa, posto médico ferroviário, estação rádio-telegráfica, armazém de baldeação e casa do agente, todos construídos simultaneamente e após o período da construção da Estação, exceto a casa do agente. A literatura ferroviária nos informa que tais edifícios tiveram em suas construções o emprego de uma tecnologia muito avançada para os padrões brasileiros da época e utilização de um material quase todo importado, sendo esses madeiras para vedações, telhas francesas nas coberturas, ardósias e ferro em algumas estruturas. O Posto Médico Ferroviário, edifício destinado ao ambulatório para atendimento médico aos ferroviários e seus familiares, foi construído alguns anos após a instalação das oficinas e mantido no decorrer dos anos pelas administrações da ferrovia. Retrata as condições primitivas da assistência médica implantada no município, esboçando suas atenções, especialmente dos ferroviários e suas famílias, em tempos totalmente adversos aos recursos da medicina moderna compatível com as situações financeiras do operário, cuja responsabilidade profissional do médico, ultrapassava os limites da filantropia, principalmente no que diz respeito ao atendimento às gestantes e no combate à mortalidade infantil, além dos primeiros socorros em acidentes e tratamentos às enfermidades existentes. O Restaurante Edifício cuja construção serviu, especificamente, ao refeitório da Estrada de Ferro Oeste de Minas, sendo administrado em sistema de concessão. Alguns de seus proprietários foram Maria Rita de Jesus, José Pereira de Abreu, Xisto Loureiro Patto e Francisco Borges, o último concessionário em 1961, quando, então, o restaurante foi desativado. Posteriormente, ainda na primeira metade da década de 60, esse edifício sofreu adaptações para ser utilizado como escritório do setor de “Turma de Pontes”, também sediado em Ribeirão Vermelho, sendo também desativado em 1981, quando o setor de Turma de Pontes transferiu-se para as oficinas e, em seguida, para o edifício que serviu à Cooperativa do Serviço de Subsistência Reembolsável da Rede Mineira de Viação, na Rua Joaquim Braga. Estabelecimento complementar aos serviços de embarque e desembarque de passageiros da estação, o Restaurante atendia aos viajantes que pernoitavam ou que faziam baldeação de trens mistos ou noturnos, procedentes de Uberaba, Belo Horizonte, São João del Rei, Barra Mansa, Cruzeiro, etc., em conexão com outras ferrovias em diversos horário, que cruzavam as chaves de Ribeirão Vermelho. Tem sua importância histórica peculiar como ponto de paragem dos viajantes, associados à culinária local dos primeiros decênios do século XX, onde comiam os variados pratos que constituíam a mesa da tradicional família ferroviária, destacando-se a bacalhoada ao azeite de oliva, regada ao “Vinho do Porto”, trazida pelos portugueses e muito apreciada pelos viajantes, além dos que acompanhavam a carne assada de animais silvestres, entre os quais figuram a paca e a capivara, na ocasião, bastante comuns nesta zona, os pescados, tais como o dourado e a traíra, além da goiabada, do melado com queijo, do canudo de doce de leite, primitivamente moldados com “bambu do reino” e a tradicional geléia de mocotó produzida nos arredores rurais do município. Conserva Externa Conserva era o termo empregado ao setor da turma de operários que trabalhavam na conservação e manutenção das locomotivas, carros e vagões da ferrovia. Era dividido em duas turmas; conserva interna, que trabalhava na recuperação das locomotivas internamente nas oficinas e rotundas e a conserva externa, que trabalhava na vistoria e revisão superficial das locomotivas, carros e vagões em operação de viagens, sendo seu edifício destinado ao depósito operacional desse setor. Sua edificação tem grande valor por constituir a organização e estrutura do sistema ferroviário ligado ao setor de segurança complementar às atividades operacionais da Estrada de Ferro Oeste de Minas. Estação Rádio-Telegráfica Foi instalada pela Diretoria da Estrada de Ferro Oeste de Minas em 06 de novembro de 1922, com o objetivo de tornar mais fáceis as comunicações da administração, sediada no Rio de Janeiro, com as diferentes zonas da estrada. Posteriormente foi desativada, passando o pequeno edifício a ser utilizado como dormitório. Instalada de acordo com as necessidades de comunicação da época, o pequeno edifício da Estação Rádio-Telegráfica exprime com alarde a sua utilização quando, então, foram empregados pela Estrada de Ferro Oeste de Minas os sistemas tecnológicos aplicados na telegrafia sem fios através das ondas hertzianas ligando Ribeirão Vermelho a Belo Horizonte, São João Del Rei e Barra Mansa. O Armazém da Baldeação, grande edifício destinado ao depósito e armazenamento de produtos e mercadorias procedentes de várias regiões e estados, exportados e importados através da ferrovia que, na Estação de Ribeirão Vermelho, eram baldeados dos trens de cargas de bitola métrica para 0,76 m e vice versa. Sua construção reproduz a atividade mercantil e o mercado atacadista em conformidade com o abastecimento da região, desde utensílios domésticos, especiarias, alimentos, tecidos, gêneros secos e molhados, até materiais de construção civil, tais como cimento, cal, tijolos, telhas, etc., desenvolvidos por capitalistas e, principalmente, por parte da colônia sírio-libanesa, que com a margem para bons negócios, instalaram-se no município desde os primeiros decênios do século XX. A Casa do Agente, residência ferroviária destinada a servir de moradia ao Chefe da Estação e seus familiares. Essa residência foi construída no ano de 1926 e é conhecida como Casa do Agente, cujo nível na classe ferroviária estava abaixo do Chefe de Estação. A Casa do Agente, situada em local semiaberto, com alpendre, horta e chaminé, esboça a naturalidade de uma família ferroviária típica, a sua franqueza e hospitalidade, que, no desempenho infatigável do trabalho ferroviário, deu provas de patriotismo esclarecido e sincero no decorrer dos anos, cujo merecimento profissional adquiriu elevado conceito moral. Locomotiva nº 315 A Locomotiva a vapor tipo Pacific nº 315, marca Baldwin Works, ano 1920, foi concedida ao município de Ribeirão Vermelho graças à atenção do Dr. Sérgio Santos Moraes, arquiteto, coordenador do Programa de Preservação do Patrimônio Histórico da RFFSA através do termo aditivo nº 02 ao convênio 036/96, celebrado em 21 de junho de 1996, entre a RFFSA/PROFAC e a Prefeitura Municipal, através do Prefeito Dr. Nilton Lasmar, com o objetivo de recuperar, manter e preservar para fins culturais e ser colocada em local público. Desativada com o advento das locomotivas diesel-elétrica no final da década de 50, a Locomotiva nº 315 encontravase encostada no distrito da RFFSA de Engenheiro Bhering (Estação de Prudente), sendo restaurada nas oficinas de Lavras por uma equipe de profissionais ferroviários qualificados, previamente contratada pelo Departamento de Cultura da Prefeitura Municipal de Ribeirão Vermelho. Aos 31 de agosto de 1996, o município de Ribeirão Vermelho recebia a Locomotiva nº 315, que deixava as oficinas de Lavras e retornava em definitivo para esse importante conjunto ferroviário, constituindo atualmente uma das principais peças da memória ferroviária de Ribeirão Vermelho. A estrada de ferro que atravessa vales e planícies e que interviu diretamente na vida diária de todos os ribeirenses, tem feito com que sejam poucos aqueles que permaneçam indiferentes ante a visão de um magnífico instrumento constituído por uma estrada de ferro. E, como um bem que marcou a instalação do transporte ferroviário, a Locomotiva nº 315 documenta com exatidão a evolução da tecnologia dos transportes no Brasil, além de conter a riqueza que ostenta em seus adornos, de notável importância histórico-cultural para Ribeirão Vermelho.

Quadro de Edificações Ferroviárias de Ribeirão Vermelho

Imóvel Existentes  / Desat. Em func ./ Demolidos

1. Estação da navegação do Rio Grande - - x
2. Galpão de mercadorias em trânsito da nav.(baldeação) - - x
3. Galpão de oficinas da navegação do Rio Grande - - x
4. Residência do escalador de maquinistas - - x
5. Escritório Central das oficinas - - x
6. Galpão de máquinas operatrizes - - x
7. Galpão de carpintaria e marcenaria - - x
8. Galpão de almoxarifado anexo ao escritório da turma de pontes - - x
9. Galpão da Fundição - - x
10. Galpão da ferraria  x - -
11. Galpão de Manutenção de vagões (conserva interna) - - x
12. Engenho Central da Cia. Oeste de Minas - - x
13. Rotunda x - -
14. Posto Médico x - -15. Restaurante x -
16. Conserva Externa x - -
17. Estação Rádio-Telegráfica x - -
18. Galpão de Mercadorias em trânsito (arm. baldeação) x - -
19. Balanças de carros,vagões e locomotivas - - x
20. Galpão do Setor de Iluminação - - x
21. Estação Ferroviária x - -
22. Residência do chefe de estação(casa do agente) x - -
23. Residência do chefe de depósito* - x -
24. Cooperativa  do serv. de subsist. reembolsável  x - -
* Residência de proprietário particular

Fonte: http://lauaxiliar.blogspot.com.br